A História anda pelas ruas
Quem quiser conhecer bem a história de uma cidade, grande ou pequena, ou mesmo a história de uma nação, pode começar o seu estudo com um simples passeio pelos logradouros públicos.
É verdade! Os nomes dados às ruas, avenidas, alamedas e praças, de qualquer lugar, são sempre indicativos de importância que eles têm para a lembrança dos moradores.
Se é certo que nós temos, por exemplo, rua Marechal Deodoro, ou praça General Osório, ou ainda, avenida Getúlio Vargas, praticamente em quase todas as cidades do Brasil, não é menos exato que apenas em um ou outro lugar teremos logradouros que receberam nome de pessoas de relevância local, como, por exemplo, Horácio de Carvalho, que foi pai do primeiro Juiz de Direito de São Bernardo do Campo, e avenida Doutor José Fornari, que foi Prefeito, também desta cidade.
O elenco de logradouros de uma cidade, por outro lado, tem o condão de evidenciar as tendências do povo, no sentido de estabelecer, dentro do espírito comunitário, aquilo que lhe é mais caro, dentro de uma hierarquia de valores.
O gosto pela música popular deu os nomes de ruas a Vicente Celestino e Francisco Alves, em São Bernardo e a Adoniram Barbosa em Diadema. A euforia pelas conquistas de Copas do Mundo de futebol, foram celebradas, ainda em São Bernardo, com os nomes das ruas Viña Del Mar e Guadalajara, que são notáveis exemplos.
Não pode ser esquecido, igualmente, o respeito que suscitaram outras pessoas que também vieram a merecer a atenção da população, por sua atuação no meio radiofônico, como são os casos de Vicente Leporace e Pagano Sobrinho.
Todavia, não podemos nos esquecer de que existe legislação em vigor que proíbe a atribuição de nomes de logradouros a pessoas vivas, valendo notar que o impedimento, entretanto, não alcança os edifícios, sejam eles próprios da iniciativa privada, ou da administração pública. É o que acontece com o estádio do Pacaembu, na capital, que já levava o nome de Paulo Machado de Carvalho, várias décadas antes de sua morte.
Cabe considerar, por derradeiro, que não são apenas nomes próprios dados aos logradouros das cidades, eis que existem as datas, que igualmente possuem relevante valor histórico, local ou nacional.
Quinze de Novembro, Primeiro de Maio, Sete de Setembro e Vinte e Um de Abril, são, entre outros, logradouros existentes até nas cidades pequeninas de nosso país, marcando de modo definitivo, os fatos importantes de nossa nação.
Por seu turno, os dias: Oito de Abril (aniversário de Santo André) e Vinte de Agosto (aniversário de São Bernardo), por exemplo, não se tornaram nomes de ruas em outros lugares.
A hierarquia de valores, aqui já mencionada, que preside a nomenclatura, aparece de modo mais claro, quando se verifica a alteração da denominação dada, o que significa dizer que, hoje, um fato atual pode justificar o esquecimento do nome anterior.
É exatamente o que acontece com três exemplos a serem citados: a mudança do nome da Rodovia dos Trabalhadores para Ayrton Senna, a alteração ocorrida com o Aeroporto de Salvador, que passou, de Dois de Julho (data da Independência do Brasil para o povo baiano) para Luís Eduardo Magalhães e, bem mais recentemente, a modificação do nome de Parque Duque de Caxias, em Santo André, para Parque Prefeito Celso Daniel.
Vale então fazermos uma reflexão: Será que alterando o nome do logradouro não estaríamos contribuindo para o esquecimento de uma personalidade ou de um momento histórico importante de uma determinada época?
Alguns pensadores importantes sustentam que um país ou nação que não preserva e cultua seu passado, esquece sua história, assim apaga também suas raízes, suas derrotas e suas conquistas, dificultando a projeção de um futuro melhor e mais assertivo para seu povo.
Tunico Vieira
26/02/2002