A Arte de Falar e a Arte de Ouvir

A comunicação entre as pessoas, atividade necessária e co-existente à própria criação do homem, não é, todavia, capacidade exclusiva do gênero humano.

Mas, é entre os seres racionais que ela atinge contornos de multiplicidade e simplicidade, o que a torna bem diferente daquela utilizada pelos outros animais.

Com efeito, dizem os estudiosos e observadores que, um elefante, componente de uma manada, pode emitir um som, como aviso da existência de um perigo, a outra manada, distante dali alguns quilômetros, sendo esse som não captado pelo ser humano.

A forma mais direta, simples e rápida, de comunicação entre os seres humanos, e, por isso mesmo a mais utilizada é aquela que se produz com o aproveitamento do ar, através do som, emitido pela movimentação da boca e língua, de um ser humano, para chegar ao ouvido do outro.

Essa faculdade que o homem possui, de emitir, por meio da fala, uma idéia ao seu semelhante, é exercida com sons que tem um significado que se compara a um código, chamado de língua, ou idioma, que somente será recebido e tido como entendido, se o ouvinte conhecê-lo.

Por isso se diz que não haverá comunicação alguma, pela fala, entre um japonês e um brasileiro, se um não conhecer o idioma do outro. Nesse caso, a comunicação será precária e difícil, restringindo-se a gestos e sinais.

A comunicação verbal entre as pessoas deu origem ao surgimento de incontável número de idiomas, em todo o universo, o que está a indicar que o homem, de modo algum pode prescindir da comunicação entre os seus semelhantes, notadamente aquela que se faz pela palavra, o que ressalta a importância da língua.

Se hoje se dá como aceito que existem no mundo aproximadamente, 2.500 línguas, pode-se entender que, antigamente, esse número chegou a ser maior, dado que o progresso da tecnologia, de um lado, estreitou muito a distância entre as comunidades, e de outro, expandiu as mensagens de um ponto a outro do universo, sem demora de qualquer tempo, e, como há o interesse de se conhecer a mensagem, umas línguas predominarão sobre as outras e estas, sendo menos utilizadas, acabarão se extinguindo, o que, na verdade ocorreu com muitas delas.

Mas, o que é mais importante no tema, é a existência da palavra como objeto da comunicação. E mais ainda que as palavras, é a inspiração daquele que as pronuncia.

As pessoas que possuem o dom da eloqüência, encantam os seus ouvintes e provocam emoções às vezes indescritíveis, e se a mensagem transmitida, dada a força de seu conteúdo, puder ser guardada para sempre na memória do ouvinte, terá o condão, até mesmo, de alterar o seu modo de ver as coisas, e porque não a sua postura ou seu comportamento.

O aprimoramento do ato de comunicação verbal, que faz com que o orador atinja os níveis da arte de falar, dificilmente será alcançado se não vier a produzir efeito junto àqueles que são os destinatários das mensagens.

Se o orador, em verdade, perceber, diante de uma platéia, que suas palavras não são convenientemente recebidas, certamente perderá o estímulo, como aconteceu com Camões, ao final de “Os Lusíadas”, que afirmou:

“No mais, musa, no mais que a lira tenho,
Destemperada e a voz enrouquecida.
E, não do canto, mas, de ver que venho,
Cantar a gente surda e endurecida”.
Canto X.

Tunico Vieira
13/12/2002