América Portuguesa I
No final do século XV, um documento de suma importância veio a ser tornado público na Europa, dando conta de que o mundo, na verdade, era apenas parcialmente conhecido, havendo, conseqüentemente, muitos territórios a serem descobertos e explorados, o que poderia vir a ser razão de maior enriquecimento dos países europeus.
O documento, que veio a ser chamado de “Tratado de Tordesilhas”, foi assinado entre Espanha e Portugal, fato acontecido na província espanhola que lhe deu o nome, e veio a receber a chancela do papa Júlio II, autoridade tida e havida como hierarquicamente superior, pelos monarcas do velho mundo.
Esse acordo foi provocado pela proeza de Cristóvão Colombo que, em 1492, querendo comprovar a veracidade de sua tese de chegar ao oriente navegando para o ocidente, não alcançou o território asiático, mas, mostrou ao mundo a existência de terras até então desconhecidas do velho continente.
Pelo tratado acima mencionado, as terras localizadas até uma distância de 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde, no oceano Atlântico, quando descobertas, pertenceriam a Portugal; as mais remotas, a partir do meridiano acima citado, pertenceriam à Espanha.
Evidentemente, para chegarem a esse acordo (1494/96), os países signatários não consultaram as demais nações européias, que não eram obrigadas a respeitá-lo, apesar da grande reverência que tinham pelo Papa que o ratificou, embora, na realidade, Portugal e Espanha fossem os mais próximos reinos do oceano Atlântico, e faziam, naqueles tempos, grandes explorações marítimas, pois estavam perfeitamente aparelhados e equipados para a navegação, mesmo em águas até então desconhecidas.
Garantidos pelos termos do tratado, partiram então os interessados na busca das possíveis e eventuais fontes de riqueza, em terras ainda intocadas pelos europeus, mas, desde logo, de apossamento liberado.
O Novo Mundo, porém, não foi alvo apenas das duas nações que se deram por legitimadas a tomá-lo para si: franceses, holandeses, e, posteriormente os ingleses, ainda que, eventualmente, não representando oficialmente seus países, também partiram em direção ao Novo Mundo com o objetivo de obter dele uma fatia.
E é por isso que existem no continente americano, até hoje, as marcas dos descobridores, pioneiros e exploradores, em conseqüência do que podemos falar da América Portuguesa, da Espanhola, da Inglesa, da Holandesa e da Francesa, cada qual com vestígios, maiores ou menores, de suas presenças entre nós, conforme consta dos registros históricos respectivos.
Depois de tais considerações de ordem genérica, que envolvem a descoberta, há exatos cinco séculos, pela Europa, do continente que ficou conhecido como América, em homenagem a Vespúcio, cabe, nesta primeira dissertação, comentar sobre a parte do continente que nos diz respeito, bem mais de perto.
E, sem dúvida, a primeira indagação que provoca a nossa curiosidade é a que diz com o fato constatado de ter sido bem mais tardia a colonização da América Portuguesa do que a Espanhola, a ponto de, quando se instalou a primeira vila no Brasil, a de São Vicente, por Martim Afonso de Souza, em 1532, na América Espanhola, mais precisamente no México, um ano antes, já existia uma diocese da Igreja Católica, cujo bispo titular houvera recebido um recado da Virgem Maria, trazido por um indígena, que se resumia em um apelo para a edificação de um templo (Nossa Senhora de Guadalupe), em sua homenagem.
Por outras palavras, quarenta anos se passaram entre a descoberta da América e o início da colonização portuguesa no nosso continente, acontecimento que terá suas possíveis justificativas, em próximos comentários.
Tunico Vieira
02/04/2004