América Portuguesa II
O ano de 1750 marcou a revogação do Tratado de Tordesilhas, por força do chamado Tratado de Madrid, em conseqüência do que o meridiano que passa a 370 léguas a leste do Cabo Verde não mais impedia o respeito, seja por parte dos portugueses, que passaram a estar liberados a aumentar o território do Brasil mais para o Oeste, seja por parte dos espanhóis, que já ocupavam toda a costa americana do oceano pacífico, que dessa data em diante, poderiam se dirigir para o leste.
Acontece, porém, que a cordilheira dos Andes era o grande e maior empecilho à possibilidade de avanço para o interior do continente, o que favoreceu bastante o interesse dos portugueses, que ficaram liberados para prosseguir, à vontade, na direção do sertão, assim aumentado bastante o território português na América, pois, sendo o meridiano de Tordesilhas a linha imaginária que descia da ilha de Marajó diretamente ao litoral de Santa Catarina, a vasta área que fica a oeste desse limite, incluída a bacia amazônica, os portugueses conquistaram e, afinal, entregaram-na ao Brasil.
Voltando, agora, ao tempo das primeiras décadas após a descoberta, pelos europeus, do continente americano, cabe considerar a respeito das causas que levaram Portugal a demorar tanto nas diligências de colonização do território que, sendo encontrado, era de sua posse legítima.
A facilidade que encontraram os espanhóis para descobrir, conhecer e colonizar os novos territórios, na região que depois veio a ser chamada de América Central, foi proporcionada pelas condições geográficas do local, com a existência de grande número de ilhas, dos mais variados tamanhos, e, principalmente pelas águas que as rodeavam, o que permitia que os navios, únicos meios de transporte da época, e que estavam à mão, pudessem sempre caminhar mais para o oeste, a tal ponto que o navegador espanhol Vasco Nuñes de Balboa, já no ano de 1513, veio a ser o descobridor do oceano Pacífico, em seu lado oposto à Ásia, dando-lhe o nome de Mar do Sul, sendo no local, em 1519, fundada a cidade do Panamá, primeiro povoado espanhol, na América, do lado do oceano Pacífico.
Enquanto isso, no território português nada ainda havia acontecido, em termos de exploração, e, muito menos, de colonização.
Um dos fatores, de grande importância, foi a dificuldade de penetração, por parte dos descobridores, no território encontrado, razão porque a ocupação do mesmo se restringia ao litoral.
Outra causa que também influenciou no atraso da colonização portuguesa, foi, sem dúvida, de natureza econômica; as terras descobertas não possuíam nenhuma riqueza de pronto aproveitamento e a coroa portuguesa não dispunha de meios para investir nas áreas internas.
Foi então que, somente em 1530, Portugal entendeu de providenciar algo a respeito da efetiva colonização do território brasileiro, mesmo porque, holandeses e franceses já se achavam por ali, à espreita, na esperança de se apossar de algum trecho do litoral, enquanto parecia terra sem dono.
Assim surgiram as capitanias hereditárias, método utilizado pelo rei com o fim de provocar a participação da iniciativa privada. Mas, a empreitada era muito árdua e pouco atrativa e somente poucos donatários se encorajaram a enfrenta-la, tendo sucesso o sistema, apenas, em um primeiro momento, com Martim Afonso de Souza (São Vicente) e Pero Lopes de Souza (Pernambuco e Itamaracá), por exemplo.
Se, por um lado, a América espanhola teve evolução mais rápida do que a portuguesa, por outro não se pode negar que o futuro transformou aquela em vários países, de vários tamanhos, enquanto que esta, com o trabalho demorado e sólido de seus colonizadores, manteve-se conservada, mantendo-se em um único país, bem maior do que qualquer dos outros, ficando assim aumentado quando deixou de existir o Tratado de Tordesilhas.
Tunico Vieira
07/05/2004