Biografias

Um sábio provérbio latino afirma que “verba volant, scripta manent”, para lembrar que aquilo que se fala, logo se perde, mas, o que se escreve pode permanecer marcado e relembrado por muito tempo, ou mesmo, para sempre.

E, desde logo, o homem percebeu que a comunicação verbal perdia, em importância e seriedade, para a comunicação escrita. Por isso mesmo, desde os primórdios da civilização cuidou de descobrir meios para deixar gravadas, a princípio nas pedras, as suas idéias e mensagens.

Nasceu, então, a comunicação através da linguagem escrita, se bem que, dependendo da distância, no tempo, entre a emissão da mensagem e sua chegada aos leitores, nem sempre o entendimento é possível, tornando-se necessária a sua decifração, como aconteceu, por exemplo, com Jean-François Champolion, que demorou vários anos para descobrir as mensagens da pedra de Rosetta, escritas cerca de dois séculos antes de Cristo, encontradas no Egito no final do século XVIII.

A escrita, que também foi evoluindo e se espalhando pelos povos da Terra, com o aprimoramento, tanto dos caracteres e símbolos, que se tornavam cada vez simplificados, como das suas sedes, que deixaram de ser apenas as rochas, pôde o homem criar a literatura escrita, manifestação de idéias de inegável importância, notadamente do ponto de vista histórico, dado que tudo o que se conhece hoje, de modo seguro, a respeito da antiguidade do gênero humano, nos veio das mensagens escritas pelo próprio homem.

Nesse passo, não existe melhor exemplo do que a própria Bíblia, que conta a história de séculos e séculos do chamado povo de Deus.

Com a multiplicação das obras literárias que vieram surgindo, graças à própria índole do homem, que sempre se preocupou em deixar mensagens para os pósteros, vários se tornaram os gêneros literários, entre os quais se pode destacar o biográfico.

As crônicas biográficas, ou simplesmente, biografias, são os relatos a respeito da vida e obra de uma pessoa, escritas para deixar marcada, quase sempre como uma exaltação, a passagem dessa mesma pessoa pela Terra.

Fácil será entender-se, então, que somente pessoas que tiveram situação de realce entre seus semelhantes, seriam biografadas.

Daí porque existirem, desde muitos séculos, até hoje, biografias, apenas, de pessoas notáveis, que se sobressaíram por qualquer motivo, como santos, heróis, inventores, etc…, e, logicamente, aqueles que se destacaram pelo exercício do poder político.

Especificamente com relação a estes últimos, cabe lembrar que uma boa, correta, e isenta biografia, sempre dependerá do grau de relacionamento, como subserviência, ou não, entre o autor da biografia e o biografado.

Muitos dos poderosos, da Antiguidade e da Idade Média, encomendavam as suas biografias, ficando claro que os respectivos relatos sempre deveriam ser recebidos com reservas, dada a condição de submissão de quem era contratado para escrever a obra, que, naturalmente, tratava de registrar somente o lado bom e as boas obras do interessado.

Atualmente pode ser encontrado um gênero novo, que é chamado de autobiografia, que aparece em uma obra literária, quando o autor, escrevendo um romance, relata fatos acontecidos com sua própria pessoa, ao longo de sua vida.

Parece, porém, que esse gênero surgiu depois que, a partir da era moderna, os escritores criaram o romance biográfico, onde os fatos reais que envolvem a pessoa são apresentados em meio a outros, evidentemente fictícios, sendo famosos, como especialistas, nesse gênero, entre outros, Stefan Zweig e Emil Ludwig.

A leitura das obras biográficas é sempre interessante, seja pelo conteúdo histórico, seja pelo que nos conta da personalidade do biografado, valendo, porém, a lembrança de que, em sendo um romance, há que ser dado o devido desconto, ou seja, nem tudo o que ali se anotou, poderá ser tido como exatamente verdadeiro.

Tunico Vieira
22/11/2002