Brasil 180 anos: Rodovias

Prosseguindo nos temas a serem abordados por ocasião dos cento e oitenta anos do Brasil independente, teceremos comentários, agora, sobre o sistema rodoviário existente em nossa terra, iniciando com o lembrete à frase do presidente Washington Luiz, proferida na década de 20, dizendo que “governar é abrir estradas”.

O acerto de tal entendimento é tanto mais evidente, quando levada em conta a enorme dimensão do território brasileiro, onde os caminhos para circulação dos bens, assim como das pessoas, são absolutamente necessários.

Acresça-se a isso a consideração a respeito do completo abandono em que ficaram as ferrovias, para que se tenha noção mais pura, e mesmo eloqüente, de que não pode o Brasil, de modo algum, prescindir de muitas, modernas e extensas rodovias, não havendo necessidade de nenhum esforço para se compreender que a sua construção é de total incumbência do governo federal.

Entretanto, e, infelizmente, também é fácil constatar que não é exatamente isso que vem acontecendo.

Em uma visão panorâmica, pode-se descobrir que as melhores e mais modernas rodovias existentes na atualidade são as estaduais, notadamente as localizadas na região sul, com realce para os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, com uma única exceção para a rodovia Presidente Dutra, que liga as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

As rodovias federais, além de existirem em número bem inferior ao desejado, não apresentam os níveis de qualidade hoje recomendados, e, muito pior do que isso, não têm sido devidamente cuidadas, no que diz com o aspecto “manutenção”.

São freqüentes as reportagens dos jornais e das emissoras de televisão, dando conta da incrível situação de deterioração das rodovias federais, principalmente aquelas que atravessam o sertão, cujo uso por veículos transportando cargas muitas pesadas, apenas torna pior o seu estado de conservação.

É verdade que, em 1973, quando Brasília já existia como capital federal, devidamente instalada no sertão, em atendimento à determinação constitucional, a questão da criação de rodovias que pudessem fazer a ligação da nova sede do governo, com os quatro cantos do país, levou o governo à criação do Plano Nacional de Viação, que foi antecedido do início da construção, por exemplo, das rodovias Brasília – Acre e Belém – Brasília.

Esse plano definiu aquilo que foi chamado de sistema rodoviário federal, e previu a criação de rodovias radiais, longitudinais, transversais e diagonais, mas é certo que quase nada saiu do papel até os momentos atuais.

Somente alguns poucos exemplos podem ser citados quanto ao que foi feito, ou vem sendo feito pelo governo federal, e, ainda assim, nesses mesmos casos, as rodovias construídas contam com a colaboração dos governos estaduais, como são os casos da rodovia Rio – Santos, quase toda feita por São Paulo, em solo paulista, e a conhecida BR-116, que é um caminho para o sul do país, ainda não acabada, mas, que também tem a ajuda do nosso Estado.

Na mesma década de “70”, época do plano mencionado, ao invés de ser levado ele a efeito, o que aconteceu foi a degradação das rodovias existentes, por exclusiva ausência de recursos, até mesmo, para a sua manutenção.

São amplamente divulgadas as situações a que são levados os caminhoneiros, que iniciam viagens que acabam sendo interrompidas por impraticabilidade das rodovias, às vezes com total impossibilidade de chegar ao destino.

Isto nos obriga a dizer que melhor seria não existir o caminho a seguir, do que pensar que existe, mas afinal, não pode ser utilizado.

Tunico Vieira
20/09/2002