Dia do Trabalho: eterna luta contra a jornada

O Dia do Trabalho – ou do Trabalhador, como também é chamado – é celebrado anualmente no dia 1º de Maio em vários países, sendo feriado em alguns, como no Brasil e em Portugal.

A comemoração teve origem em fatos ocorridos no ano de 1886, quando realizou-se uma manifestação de milhares de trabalhadores nas ruas de Chicago, nos Estados Unidos. A finalidade era reivindicar, principalmente, a redução da jornada de trabalho de 16 para 8 horas diárias. Em 1º de Maio desse ano teve início uma greve geral no país, cujos enfrentamentos culminaram com a morte de alguns manifestantes.

A redução da carga horária só aconteceu, porém, em 1890, quando a luta dos trabalhadores norte-americanos conseguiu que o Congresso aprovasse a nova jornada.

Mas nos 125 anos transcorridos após esta conquista, a relação do homem com sua jornada voltou a ser motivo de luta: um conflito interno que se trava no dia a dia, contra o excesso, as más relações de trabalho e a ausência de momentos de descanso e lazer.

As tecnologias, grandes aliadas do progresso humano, vêm aqui colaborar com o sistema. Ligações para celulares, torpedos, e-mails. A privacidade fora do horário de trabalho está cada vez mais vulnerável.

O filósofo Aristóteles disse que “felicidade é ter o que fazer”, verbo recorrente nos diálogos dos cidadãos do século XXI: “tenho que ir ao médico”, “tenho que ir ao dentista”, “tenho que visitar um amigo”, “tenho que dar mais atenção a meus filhos”… Sobra o “ter o que fazer”, mas falta o quando fazer. E também falta, é claro, o cuidado com a própria saúde – física e mental.

Estamos diante das voltas que o mundo dá. Aquelas que giram, giram e voltam ao mesmo lugar. E param sempre nas sucessivas licenças, afastamentos, depressões e fobias após as quase 16 horas diárias carregadas por muitos trabalhadores.

O salário, tópico sempre tão animadamente debatido nas conversas dos trabalhadores, agora mudou de figura. Antes se dizia que “meu salário seria justo se fosse maior”. Hoje se ouve dizer que “o meu salário seria justo se eu trabalhasse menos”.

Se “o trabalho agradável é o remédio da canseira”, como disse William Shakespeare, podemos dizer que o trabalho exaustivo, tanto em sua forma como em sua extensão, é um veneno para quem dele compartilha, mesmo quando administrado em pequenas doses, sem causar males à primeira vista, mas letal ao longo de vários anos.

Mas o peso das jornadas e das relações trabalhistas praticadas atualmente não será, num primeiro momento, aliviado por nenhuma manifestação seguida de greve, como ocorreu no século XIX. A batalha será, inicialmente, interna, de reorganização, de imposição de limites a si mesmo. A reflexão poderá ser o ponto de partida para tomadas de decisões no gerenciamento do atual trabalho, ou ainda de iniciativas para mudanças de rumos – mesmo que a longo prazo.

Aproveite, então, esse 1º de Maio para pensar, pois nada mudará sem que se reflita. Henry Ford dizia que “pensar é o trabalho mais pesado que há”, mas foi pensando e observando que passou de mecânico a maior empreendedor da indústria automobilística mundial.

Somente quando os conflitos se concretizarem nos indivíduos, a revisão da jornada e a reeducação das relações empregador-empregado serão capazes de se constituírem como um assunto de discussão social, gerando uma nova cultura. Isto já ocorreu em outros países, e várias multinacionais com filiais no Brasil cultivam práticas que visam dar ao empregado uma carga horária menor, para que sua atenção, desempenho e capacidade criativa aumentem no período em que está na empresa.

Nas palavras do famoso escritor russo Máximo Gorki, “a nova cultura começa quando o trabalhador e o trabalho são tratados com respeito”. A busca por esse respeito deve começar em cada um de nós.

Então pense… E, é claro, descanse e divirta-se neste 1º de Maio!

Um excelente Dia do Trabalho a todos!

Tunico Vieira
01/05/2011