Energia Elétrica
Em meados de 2001 o povo brasileiro foi surpreendido com a divulgação, por parte das autoridades governamentais, com iminente possibilidade de cortes e suspensão do fornecimento de energia elétrica.
Juntamente com ameaça, próxima, daquilo que popularmente se convencionou chamar de “apagão”, vieram as explicações a respeito da eventual necessidade de tão drástica e inesperada medida, que abalou o país inteiro.
O primeiro culpado a ser apontado foi o prolongado período de seca: disseram os responsáveis que a estiagem, em todo o Brasil causou o esvaziamento dos rios, o que, logicamente, reduziu a capacidade de produção energética de nossas usinas.
Ao povo, de um modo geral, foi atribuída culpa, resultante do fato de não saber o brasileiro economizar, acostumado que sempre esteve à fartura de eletricidade.
Em seguida, porém, como não podia deixar de ser, as próprias autoridades terminaram por reconhecer que, nos últimos anos, não vieram a ser feitos investimentos no setor, ou seja, o Brasil não parou de crescer, o consumo de energia elétrica teve grande aumento, mas, novas usinas, ou fontes geradoras, não foram construídas ou instaladas.
Como se quisesse isentar de sua responsabilidade pela situação, a cúpula governamental procurou se justificar alegando que não tinha conhecimento de que a geração de eletricidade estava em elevado grau de precariedade.
Evidente que tal justificativa não foi, como não poderia ser aceita, e, eis que de todos os cantos da nação, começaram a surgir informações e contestações, principalmente por parte de empresas e entidades estatais ligadas ao setor, dando conta de que, já há vários anos sabia o nosso governo que a eletricidade no país estava deficitária, exigindo mais e mais investimentos.
Definitivamente esclarecido que o governo foi o responsável pela possível consumação do “apagão”, cuidou ele de sugerir e impor as providências cabíveis para a redução dos seus riscos.
Foram estabelecidos limites de consumo (racionamento), com ameaças de multas sobre o excesso e cortes temporários, nos casos de serem os limites ultrapassados, o que deixou o povo aborrecido e preocupado, por entender que não deveria ser sacrificado com a restrição do uso da energia, se não colaborou para a situação.
Entretanto, vale aqui elogiar o cidadão brasileiro que, além de preocupado e aborrecido, tomou real consciência de sua obrigação e respondeu à altura, atendendo àquilo a que foi chamado, conforme ficou demonstrado por informações da mídia, dando conta de que os percentuais de economia recomendados, de um modo geral, foram alcançados, praticamente, em todas as regiões do país.
Superada essa fase, e parecendo que o fantasma do “apagão” foi espantado, tanto mais que já chegaram as chuvas de verão, abundantes e freqüentes, eis que nova surpresa, abala os consumidores: o preço da energia elétrica terá uma porcentagem de acréscimo, destinada a cobrir os prejuízos das empresas distribuidoras que, por força do racionamento, não estão arrecadando o que antes arrecadavam!
Quer isto dizer que o povo terá que pagar, com o acréscimo, por uma energia que não lhe foi entregue, por que as distribuidoras não podem ficar prejudicadas em suas receitas!
Conclusão: entre o prejuízo das empresas e o do povo, nossas autoridades preferiram favorecer aquelas, que ganham por uma energia não favorecida, e o brasileiro paga por uma eletricidade que não recebeu!
É, verdadeiramente, uma pena!
Tunico Vieira
17/01/2002