Importante Centenário

O presente ano de 2003 marca o fecho do primeiro centenário da fundação e início da obras do canal do Panamá, feito tão grandioso que o coloca, sem dúvida, em primeiro lugar entre as maravilhas criadas pelo homem no mundo atual.

O fato de existir, em toda América, um único sítio de estreita faixa de terra, de cerca de pouco mais de cinqüenta quilômetros de largura, fez nascer, desde a descoberta do novo continente, o inabalável desejo do homem de abrir ali uma passagem de água para que o oceano Pacífico fosse alcançado pelos mesmos navios que, da Europa, chegassem à América, trafegando pelo Atlântico e não atingiriam o lado ocidental, a não ser que desse a volta pelo extremo sul, na Terra do Fogo.

Com o passar dos anos, mais e mais foi se acentuando a urgente necessidade da criação dessa passagem marítima, já que na colonização do continente descoberto por Cristóvão Colombo, principalmente no território que pertencia à Espanha, o contorno pelo sul do continente atrasava a viagem por mais de três meses.

Com a descoberta do ouro no Peru, metal que os espanhóis levavam para a Europa, veio a ser usada uma alternativa: os carregamentos do metal precioso e de pessoas passavam por pequenos trechos onde havia possibilidade de transporte sobre pequenos rios, e nos outros, onde isso não era viável, utilizava-se o transporte sobre o lombo de animais.

Antes da construção do canal, porém, em meados do século XIX, essa alternativa foi facilitada pela criação, praticamente no mesmo local onde depois foi construído o canal, de uma estrada de ferro, que até hoje percorre o istmo, de ponta a ponta, em um trecho de oitenta e dois quilômetros.

Mas, isso não era e não foi o suficiente; depois da tentativa malograda da construção do canal por uma empresa da França, que possuía à frente os renomados engenheiros daquele país, Ferdinand de Lesseps, que construiu o canal de Suez e Alexandre Gustave Eiffel, que idealizou e construiu a torre que levou seu nome e hoje é o símbolo de Paris, ocuparam-se os Estados-Unidos de concretizar a enorme tarefa de abrir o espaço aquático, o que lhes foi permitido pelo governo panamenho, fato ocorrido ao final do ano de 1903.

Aberto à navegação no ano de 1914, sob a tutela do governo norte-americano, ainda em conseqüência de acordo entre Estados-Unidos e Panamá, no último dia do ano de l999, aquele país entregou a este o domínio total sobre área e o exército dos Estados Unidos, que tinha 17 bases no país do canal, desocupou-as todas a partir dessa data.

A grandiosidade da obra pode ser evidenciada através de vários fatos, sendo o primeiro deles, certamente, a construção, preliminar de um lago artificial, de quarenta e oito quilômetros de comprimento, o que lhe dá o título de maior lago desse tipo, no planeta.

O lago, denominado Gatun, é fornecedor de toda a água necessária para o acionamento das eclusas, três de cada lado, para a elevação e a descida das embarcações, não sendo utilizada água dos oceanos na operação.

Outro dado interessante: em cada movimentação das eclusas são gastos cerca de quarenta e dois milhões de litros de água e o lago garante a reposição dessa grande quantidade graças à chuva que cai, diariamente, sobre ele, todas as tardes, entre as 13:00 e 16:00 horas, invariavelmente.

O canal agora tornou-se ainda muito mais importante porque não serve apenas para o lado do Oceano Pacífico da América; ele é o novo portão de entrada de navios orientais, da China, Japão, Coréia e outros, que alcançam através dele o Oceano Atlântico, para se dirigir à Europa.

É comum presenciar-se a passagem, pelas eclusas, de navios que transportam automóveis, os quais, vindos do oriente para o ocidente, atravessam o oceano Pacífico, e, após atravessarem o canal, ganham o Atlântico e deixam, na América e na Europa, cerca de três mil veículos, trazidos em apenas uma embarcação, em cada viagem.

Tunico Vieira
10/10/2003