Olimpíadas 2004

Exercício de Paz e Confraternização

Cinco anéis coloridos entrelaçados sobre uma bandeira branca. Os cinco continentes – Europa, Ásia, África, Oceania e América – unidos pelo esporte, num momento de confraternização entre os povos no qual a paz é o pano de fundo.

O símbolo olímpico surgiu nos Jogos de 1920, mas o espírito pacífico e de união já era cultivado na Grécia Antiga, berço das Olimpíadas. O evento tinha tamanha importância que chegava a interromper as guerras entre as cidades, num ritual conhecido por trégua sagrada.

Embora não se saiba ao certo a origem do Jogos Olímpicos, existem dados históricos acerca de sua iniciação como atividade periódica, e que corresponde ao ano 776 antes de Cristo. A partir desta data foram celebrados, com regularidade, a cada quatro anos, até o ano 394 da Era Cristã, quando o imperador romano Teodósio I resolveu impor o cristianismo aos gregos e acabar, definitivamente, com todas as festas de origem pagã, entre elas, as Olimpíadas.

Durante mais de dois mil anos a competição foi somente história. No século XIX, entretanto, um eminente educador e filantropo francês, o Barão Pierre de Coubertin (1863-1937), empenhou-se em fazê-la ressurgir. Em 1894, durante um congresso na Universidade de Sorbonne, em Paris, ele conseguiu lançar as bases dos Jogos da Era Moderna. Em 1896, o evento recomeçou em Atenas. Desde então, as Olimpíadas têm se repetido de quatro em quatro anos

Infelizmente, a modernidade não conferiu às Olimpíadas o caráter pacífico da criação grega. Em 1916, 1940 e 1944 elas não ocorreram, pois o mundo estava em guerra.

Mais tarde, em 1972, durante as Olimpíadas de Munique, terroristas de uma organização chamada Setembro Negro invadiram o dormitório da delegação de Israel. O saldo foi desolador: nove atletas e cinco terroristas mortos.

Em 2004, a competição volta a ser realizada na Grécia. É a primeira após o 11 de setembro, o que exige um forte esquema de segurança contra o terrorismo. Entretanto, mais de 10 mil atletas participarão das Olimpíadas, aproximando por intermédio do esporte muitos países que, hoje, encontram-se separados pela guerra.

Como dita o regulamento, todos serão obrigados a alojar-se num conjunto especial de residência, denominado Vila Olímpica. Assim, homens e mulheres de todo os continentes viverão, durante alguns dias, o mesmo ambiente de amizade, acima das rivalidades e dos preconceitos.

Durante os dezesseis dias de competições, as guerras do mundo não cessarão. Mas as milhões de pessoas que acompanharem os Jogos, seja ao vivo ou através dos meios de comunicação, terão a oportunidade de assistir a um magnífico espetáculo repleto de coadjuvantes, tais como determinação, técnica e beleza.

Em cada prova concluída haverá um vencedor. Ele provavelmente levantará os braços em sinal de vitória ou pulará de alegria. Por alguns segundos, ele roubará a cena. Mas, de repente, logo ao lado, dois atletas de aproximarão. Eles se darão as mãos, depois um abraço. Outros trocarão sorrisos, outros se olharão por entre lágrimas. E aí, sim, reconheceremos os grandes protagonistas da festa: a união e a paz – essências olímpicas do antigo mundo grego.

Tunico Vieira
30/07/2004