Pesquisas eleitorais
Atividade importante, interessante e também necessária, sempre praticada nas proximidades de eleições, é aquela desenvolvida por institutos de pesquisas, no sentido de averiguar como anda a opinião pública a respeito dos candidatos aos cargos eletivos.
Ultimamente, vêm se multiplicando o número das entidades dedicadas a esse tipo de pesquisa, assim como vêm aumentando, igualmente, o número de empresas que encomendam as mesmas tarefas.
À primeira vista, pode parecer estranho, senão irregular, que alguém tenha o direito de solicitar ao eleitor a informação sobre em qual candidato em quem vai votar, se considerarmos que, por lei, o voto é secreto.
Entretanto, é possível reconhecer que, na realidade, nada há de ilícito na indagação, uma vez que, sendo realmente garantido legalmente o sigilo da votação, o indagado, eleitor, pode perfeitamente se negar a satisfazer a curiosidade do encarregado da colheita de informação.
Mas, ainda que assim não seja, isto é, que o eleitor diga em quem vai votar, nada haverá de irregular em seu comportamento, porque a garantia do sigilo, em última análise, está no fato de que o eleitor jamais será chamado a responder pelo voto que deu. Por outras palavras: não existe, juridicamente, nenhuma ligação entre o eleitor e o voto proferido, além do que, ao ser pesquisado, o eleitor pode não ser sincero, coisa, porém, que não costuma acontecer, por força da índole do brasileiro, que não esconde suas inclinações políticas.
Várias são as facetas que se apresentam no que diz respeito às pesquisas eleitorais.
Uma das mais importantes é o esclarecimento que procura o próprio candidato, para saber a quantas anda o seu conceito junto ao eleitorado. Daí porque algumas pesquisas não são tornadas públicas, quando o candidato as encomenda, e não quer que o povo saiba do resultado.
Com outras pesquisas acontece exatamente o oposto: quem as encomendou, diante do resultado satisfatório, logo se preocupa em divulgá-las, para mostrar ao eleitor sua posição de pessoa aceita, assim incentivando o aumento do número de votos a favor, por entender que o público tem a tendência de se juntar aos vitoriosos.
Mas, a história das pesquisas eleitorais no Brasil é marcada por fatos curiosos, e, ao mesmo tempo, surpreendentes, de resultados de eleições que desmentiram, nas urnas, o que as intenções de votos sugeriam como informado por elas.
Pode-se até dizer que, em conseqüência de tais surpresas, os institutos de pesquisas cuidaram de criar o que veio a ser chamado de “empate técnico”, que acontece quando a diferença entre os índices percentuais de intenção de voto é pequena, ou seja, varia em até cinco por cento.
Pode ser relembrado aqui, que, na prática, o resultado de pesquisa não foi confirmado em duas ocasiões, entre outras, de eleições importantes, ambas verificadas na capital de São Paulo, para escolha do cargo de Prefeito: quando Jânio Quadros, na primeira, e Luiza Erundina, na segunda, venceram os pleitos.
Certos resultados de pesquisas, que às vezes não se confirmam nas urnas, tem levado ao entendimento de que eles nem sempre são confiáveis, havendo até candidatos que sugerem ser algumas delas distorcidas intencionalmente.
Não se pode, porém, aceitar uma afirmação de tal quilate, gratuitamente.
O que deve prevalecer, dentro do tema, é que a pesquisa nem sempre é uma coisa definitiva, e não é, certamente, a própria eleição, assim permanecendo, até à apuração do último voto, em favor do candidato, a esperança do triunfo.
Uma última, todavia, importante ressalva deve ser feita. Não devemos aceitar ou deixar-nos influenciar por qualquer pesquisa eleitoral, nosso voto deve ser depositado, ou melhor, creditado, às propostas e nas pessoas que às defendem, independentes da possibilidade dessas idéias serem vitoriosas.
Permitir-se mudar seu voto apenas por influência de pesquisas eleitorais, é abrir mão de suas convicções políticas, perdendo assim, a oportunidade de exercer sua cidadania.
Tunico Vieira
13/09/2002