A nossa água

Indissociável da vida humana, o “preciso líquido” está sendo, por estes dias, objeto de um congresso mundial. Isto porque, segundo os estudiosos e interessados na matéria, ele vem se tornando um elemento raro e poderá vir a faltar ao homem, se providências não forem tomadas por ele próprio.

Em se falando da água na sua primeira utilidade, aquela em seu estado mais puro, a que tem as características de ser insípida, incolor e inodora, é certo que o Brasil possui 50% de toda a reserva do planeta e que em poucas décadas poderá ser o fornecedor de água para o mundo.

Nossos governantes, sabendo da necessidade de manter os mananciais já existentes no vasto território nacional, têm diligenciado no sentido de prover de mais reservas ainda, principalmente nas regiões em que o crescimento da população vai se acentuando.

Claro está, porém, que tais operações não podem ser restringidas apenas à captação da água. Faz-se necessário, ao mesmo tempo, tratá-la e distribuí-la de acordo com a natureza de seu uso, se industrial ou de consumo humano.

O processo de captação da água, entre nós, não apresenta grandes dificuldades, dado o fato de possuirmos muitas fontes do líquido em incontáveis rios, cujo represamento é facilitado até mesmo por topografias favoráveis, como, por exemplo, o rio Tietê, que atravessa o Estado de São Paulo, de sudeste a noroeste, tendo já grande número de represas em seu caminho.

Aliás, cabe agora mencionar que o represamento da água, feito convenientemente, evidencia outra grande utilidade do precioso líquido, qual seja a sua passagem pelas turbinas que vão gerar energia elétrica, a partir da energia hidráulica.

E está bem perto de nós um grande exemplo do uso duplo da água: a represa Billings, um reservatório artificial, construído a partir da captação de vários rios existentes na Grande São Paulo. A obra de sua construção, iniciada em 1925, prolongou-se até 1935, distribuída em várias etapas, nas quais se incluiu até o levantamento da estrada de rodagem, para evitar a submersão.

Atualmente, a represa Billings se divide em dois reservatórios: Rio Grande e Rio das Pedras, comportando o volume total de quase dois bilhões de metros cúbicos de água, que faz funcionar a usina elétrica Henry Borden (Cubatão) e abastece de água uma parte significativa da população do ABC e da baixada santista.

Vale lembrar que no dia 27 de março a represa comemora o seu aniversário, data do decreto que concedeu, em 1925, a exploração da área em que ela se encontra, pela empresa Light, hoje Eletropaulo.

O Movimento em Defesa da Vida do Grande ABC (MDV) entende que esse dia deve ser comemorado todos os anos, como tiveram os ecologistas do ABC oportunidade de fazê-lo em 1992, dando um abraço simbólico em um dos braços da represa, com a presença em Eldorado de cerca de três mil pessoas.

Resta, por fim, esperar que, em face da futura escassez, as medidas para despoluição da Billings tornem-se não só mais efetivas, como também inadiáveis.

Tunico Vieira
28/03/2003